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Por Jaime Vasconcellos, economista.

Mês passado falávamos sobre como o cenário econômico de 2022 se mostrou ainda mais desafiador do que se previa nos primeiros dias do ano. E a cada semana que se passa os exemplos disso ficam mais explícitos. São muitas variáveis: Guerra na Ucrânia sem horizonte de encerramento, lockdown em Xangai que impacta as cadeias globais de comércio, inflação disseminada pelo mundo, Bancos Centrais subindo os juros e enxugando a liquidez dos mercados, e por aí vai.

Internamente creio que nada escancara mais os desafios macroeconômicos que a inflação. Não somente ela não caiu, como além de subir, ficou acima do esperado. O Presidente do Banco Central brasileiro usou a palavra “surpreso” para definir sua reação com o tamanho do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março de 2022 (1,62%). E pode-se dizer que a magnitude deste indicador realmente foi além do que se esperava. E olha que todos sabiam que o grupo “transportes” iria pressionar o índice geral, devido ao avanço de preços de combustíveis.

Em verdade, o que se viu em março foi uma alta generalizada de mercadorias, liderada por produtos alimentícios e combustíveis. Sendo que predominantemente o primeiro grupo refere-se à subsistência das pessoas, isto é, o aumento médio dos seus preços impacta diretamente a população de mais baixa renda, que possui maior propensão a consumir. E quando se gasta mais com mercadorias essenciais, sobra menos dinheiro para outros tipos de aquisições, seja no comércio, seja no setor de serviços. Em suma, a inflação está no mundo todo, mas devido as características desiguais e estruturais socioeconômicas do Brasil, na prática ela nos machuca mais.

Temos uma inflação de oferta, mas que leva a necessidade de ajustes via política monetária. Pode-se entender como algo ineficaz subir juros, mas não há outra saída de curto prazo e se faz isso já pensando em 2023. E a situação só não está pior porque (inclusive devido ao avanço dos juros básicos) o câmbio mais apreciado tem amenizado o cenário interno de preços.

E qual o futuro disso? Os preços não baixarão rapidamente. Pode haver reduções de alíquotas de IPI, bandeiras tarifárias de energia elétrica mais favoráveis, entre outras ações. Nada vai impactar este cenário a ponto de alterá-lo neste semestre. Ainda teremos pressão de preços de alimentos, ainda sentiremos efeitos do avanço do preço do trigo (que importamos) e de outras mercadorias, fora os riscos de mais efeitos do conflito na Ucrânia, da pandemia na China e o que mais vier.

Sabendo que mais de 60% do PIB provém do consumo das famílias (em valores correntes de 2021), a inflação acelerada e persistente, os juros aos dois dígitos e subindo, o desemprego elevado e com níveis altíssimos de endividamento das famílias, o resultado é uma economia fraca de desempenho e uma realidade social e econômica ainda mais frágil à população. Ser realista neste cenário parece ser pessimista, mas estamos falando de Brasil. Situações como esta não são raras.

Seguem nossas projeções macroeconômicas para o ano de 2022:

PIB: +0,5%                                                     

IPCA: 8%                                                    

SELIC: 13,5%             

Taxa de Câmbio: 5,25

Balança comercial: + US$ 60 bi

Vendas do varejo: +0,5%

Volume dos serviços: +1,5%


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