Por Jaime Vasconcellos, economista.
Está cada vez mais evidente a preocupação crescente do Banco Central com a inflação. Não apenas devido ao avanço da Taxa Selic para 10,75% na última reunião do Comitê, mas igualmente em razão da projeção do mercado de que a alta nos juros básicos da economia deverá cessar apenas quando a taxa sobrepuser os 12% ao ano – se previa inicialmente que pararíamos em 11,75% a.a. E este cenário ocorre devido à expectativa de que também fecharemos 2022 com uma inflação acima do teto da meta estipulada, que é de 5%.
A propagação da variante ômicron, a reversão apenas parcial dos altos preços de commodities internacionais e políticas fiscais que favorecem o aumento da demanda das famílias justificam o cenário mais desafiador para a inflação em 2022. Com isso, o Banco Central se vê na necessidade de avançar os juros acima do previsto para conter a elevação generalizada dos preços.
O Banco Central, usando ferramentas para conter a inflação, e os governos aumentando seus gastos, nos traz a mente uma imagem de um avião querendo tomar altitude, amarrado por uma âncora cada vez mais pesada, que o impede de tal. Temos hoje no Brasil as duas políticas, monetária e fiscal, caminhando para lado opostos. Uma anulando o esforço da outra. Gastos públicos elevados em ano eleitoral, impedindo o controle mais eficaz da inflação pelo avanço dos juros. E olha que não se pode apagar também os erros de avaliação do nosso Banco Central frente aos impactos da pandemia.
O que observamos neste processo, na parte prática e real da economia, é que quando se vê insuficiente a subida prevista para o juro, a Selic maior significa crédito mais caro, desde o cartão de crédito ao financiamento imobiliário, dos empréstimos pessoais ao capital de giro empresarial. Tudo isso inibe consumo e o investimento, o que enfraquece o crescimento do país. Por outro lado, o aumento dos gastos públicos gera inflação, dado que mesmo que a renda da população avance com reajustes aplicados, por outro lado o poder de compra dela (a renda) é minada pelo efeito inflacionário que tal ação gera.
O cachorro está correndo atrás do rabo. E em ano eleitoral, nos evidencia que a classe política está mais preocupada com as notícias e a boa imagem destes reajustes, e outros tipos de aumentos de gastos, do que com os efeitos práticos e silenciosos que a inflação e a subida dos juros causam na vida de pessoas e empresas. É por este motivo que estamos vivendo inflação e estagnação econômica. Desemprego e endividamento familiar. Ou seja, nem crescimento e muito menos desenvolvimento.
Seguem nossas projeções macroeconômicas para o ano de 2022:
- PIB: +0,5%
- IPCA: 5,5%
- SELIC: 12,25%
- Taxa de Câmbio: 5,60
- Balança comercial: + US$ 60 bi
- Vendas do varejo: +1,0%
- Volume dos serviços: +1,5%