Espaço Publicitário

Não se recorda quando foi tão difícil acompanhar e prever a conjuntura econômica brasileira. Em verdade, é algo que não se restringe apenas ao Brasil, mas o que quero dizer é que nos parece que os cenários estão tão incertos que ao fim deste texto suas sentenças estarão ultrapassadas. A despeito deste exagero, que não objetiva desencorajar o atento leitor, ressalta-se que a atual derrocada tem trazido consigo o constante desafio de analisar pragmaticamente nossa economia e tentar traçar seus caminhos futuros.

Quando citamos esses “caminhos”, estamos falando de projetar tanto o fim do ano, como também os próximos quinze dias. Nos parece que ambos os casos são desafios significativos. A despeito disso, é possível visualizar em praticamente todo jornal impresso, digital ou televisivo as projeções para nossa economia em 2020. Muitos falam em um Produto Interno Bruto (PIB) de -4% ou -5% em relação ao ano passado. Outros analistas tentam vislumbrar o efeito da aguda crise no mercado de trabalho, base da demanda agregada de nossa economia. É palatável estimar uma taxa de desemprego que pode saltar acima dos 16%.

Este economista que vos escreve, e projeta indicadores macroeconômicos ao fim do texto todos os meses, vangloria os profissionais da grande área das ciências sociais que cumprem com seus papeis de tentar calcular alguma previsibilidade aos nossos caminhos. Mas entendo que neste momento a utilidade desses números existe apenas para exercer pressão organizada nos poderes públicos, os quais podem e devem manter um direcionamento de medidas para amenizar o impacto do COVID-19 em nossas vidas e economia.

Não somente é ruim flutuar em um lago sem ventos. O difícil é não ver a borda deste lago. Não sabemos ao certo quando a contaminação deixará como desafio único a retomada econômica. É tácito que as medidas já anunciadas possuem sentido correto. Entretanto, sabemos também que as doses de estímulo são insuficientes para o momento. E o presente não é o pico da epidemia, nem o vale da economia. Neste quadro, o cuidado é também o ritmo dos estímulos governamentais, e não apenas seu tamanho, dado que se espera longo o caminho a percorrer e os cartuchos não podem ser zerados rapidamente.

Defendo que assim como o poder público irriga e deve continuar irrigando o mercado com liquidez, ele deve usar recursos do Tesouro Nacional para dar mais suporte à esfera produtiva. É momento de se avaliar o aumento da base monetária do país, em detrimento emergencial e pontual do sistema de metas inflacionárias.  É hora de cuidar, inclusive, não apenas da magnitude das cifras, mas da acessibilidade a elas por nossa população e empresas.

É imprescindível que nossos gestores públicos responsáveis pela Saúde tenham prioridade nas ações, mas que os responsáveis pelas decisões econômicas realizem conjuntamente seu papel de amparo e avaliação perene de efetividades das medidas econômicas implementadas. É hora de dar garantias de crédito, reduzir o crivo da seletividade financeira do tomador (PF e PJ) e dar vazão a dinheiro novo. Não é emitir. É usar o caixa ou os fundos existentes, atualmente parados.

São desafios hercúleos e essenciais. Que devem ser acompanhados diariamente por todos nós, seja para avaliação do fôlego do orçamento familiar, ou de nossos negócios. Em nossa rotina, a tarefa é finalizar cada dia com algum equilíbrio, aguardando dos Governos e do tempo ações que nos possam ajudar a prever o futuro. Talvez não do ano, mas ajudaria se fosse possível ao menos dos próximos quinze dias.

Seguem abaixo, nossas projeções atualizadas para 2020:                                                                             

  • PIB: -4,0%                                                     
  • IPCA/IBGE: 2,25%                                                                
  • SELIC: 3,25%                                                 
  • Taxa de Câmbio: 5,00                                              
  • Balança comercial: + US$ 33 bi                    
  • Vendas do varejo: -5,0%                              
  • Volume dos serviços: -3,8

Jaime Vasconcellos, analista econômico do Sincomavi

Espaço Publicitário