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13/04/2020 | Tem sido dias difíceis para traçar cenários, tendências e orientações. Os impactos do Covid-19, e das decisões corretas de preservação à vida, trazem desafios diários à população e ao fluxo econômico. A incapacidade de prever ao menos com certa segurança os próximos dias e semanas nos impede de realizar algum planejamento. Estamos falando das relações pessoais dentro de casa, do orçamento das famílias, do nível de emprego de nossa economia e do rumo de nossos negócios. O que é possível observar, ainda que timidamente, é o cálculo estatístico da realidade atual com a amostra do que foram as últimas semanas.

No caso especificamente do varejo de materiais de construção, vamos destrinchar alguns dados apresentados por meio da grande mídia. Antes de mais nada, deixemos de lado o caráter rigorosamente metodológico, dado que muitas instituições têm vivido dificuldades na formulação de pesquisas devido ao isolamento social e o não funcionamento empresarial. O que vislumbraremos é tendência das curvas de vendas e a queda óbvia da atividade comercial.

Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram até fevereiro, antes da chegada da crise, que o varejo de material de construção crescia apenas 0,3% no ano, puxado pelo dado ruim de fevereiro (-2,0%). A presença do carnaval e já um temor conjuntural trazido pelo coronavírus à economia mundial podem explicar tal número mensal. O que se viu em março foi a contaminação geral de nossa economia com a chegada forte do vírus. O risco leva as famílias a direcionarem a renda aos bens não duráveis essenciais. Esta realidade é agravada pela incerteza de como a economia iria reagir, o que força paralisação dos investimentos e tomada de crédito (principalmente em ampliações, reformas, novas plantas etc.). A decisão de quarentena e ações mais proeminentes de isolamento social, que reafirmo, são essenciais e prioritárias, fecham o ciclo de funcionamento normal da atividade. E ainda cabe ressaltar que não apenas o interrompimento das atividades de boa parte dos estabelecimentos varejistas, atacadistas e serviços ao público são os únicos responsáveis pela derrocada das vendas do setor analisado. Como pode ser visto acima nas outras descrições conjunturais feitas, a tendência com a eclosão do Covid-19 já era de consumo paralisado, por famílias e empresas.

E os números do forte recuo das vendas de material de construção? Enquanto não há pesquisas consolidadas de variação do volume de vendas, faturamento nominal e real do setor, vamos observar o que está disponível. A empresa Cielo, por meio do índice ICVA, mostrou que em relação a fevereiro o faturamento nominal do varejo ampliado brasileiro caiu em março, e início de abril, praticamente 25%. Os bens duráveis cerca de 40%, o recuo de materiais de construção foi mais ameno, de 18,5%. No entanto, ocorreu uma redução de quase 60% na 4ª semana de março.

A Serasa Experian observou em seu indicador de atividade comercial, com ajuste, que o varejo recuou 16,2% em março, na comparação ao mês anterior, sendo que somente no ramo de materiais de construção a queda na atividade foi de quase 22%.

De toda forma, o que se observa é que os medidores de desempenho apontam para uma realidade de redução nas vendas do setor entre 20% e 30% nas últimas semanas, com picos momentâneos de mais de 50% de recuo. Não há dúvidas que o cenário incerto é muito agudo. Quem pode partir para a estratégia do e-commerce ao menos garante uma forma de escoamento de mercadorias. Outro ponto de atenção positivo é a estratégia para fomentar produtos para pequenas reformas ou reparos, dado que muita gente está em casa e deve continuar nas próximas semanas. Ainda é difícil prever o tamanho do poço que entramos, mas se sabe que serão muito degraus para retomada, quando ela for possível.

Jaime Vasconcellos, analista econômico do Sincomavi

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