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Por Jaime Vasconcellos, economista. 

Nossa fotografia de agosto mostra que a economia doméstica continua mais resiliente do que o esperado, mesmo frente a um cenário internacional de tensões e incertezas e interno com riscos fiscais, ano eleitoral e pós-crise social e econômica com as enchentes no Rio Grande do Sul. Abaixo vamos demonstrar o porquê desse cenário aquecido e os riscos de se tornar sobreaquecido. 

Em junho de 2023 projetava-se que o PIB de 2024 cresceria por volta de 0,8%. Neste primeiro semestre as estimativas foram ajustadas semana após semana e até 2,5% de avanço foi citado. Com a crise no Rio Grande do Sul, muitas projeções passaram a ser em torno dos +2%, ou até pouco menos que isso. Todavia, o Boletim Focus do Banco Central já nos aponta em agosto a expectativa de evolução por volta dos 2,2% para 2024.

Outros indicadores que mostram essa resiliência doméstica nos auxiliam a compreender tal quadro. O IBC-Br, considerado a prévia do PIB nacional, subiu 1,4% em junho (em relação a maio), número bem superior ao esperado pelo mercado. Já o setor de serviços, o principal da nossa economia, voltou a crescer em junho (+1,7% em relação a maio) e atingiu o seu maior patamar da série histórica. Isso tudo sem contar o avanço do volume de vendas do comércio em mais de 5% no primeiro semestre e o próprio mercado de trabalho, que deve novamente contar no atual ano com 1,5 milhão de vagas criadas. 

Se por um lado, os dados acima se revelam dignos de alento e até certa esperança, por outro é importante observar quais são as suas origens e suas fragilidades, principalmente no quesito de sustentação temporal. É evidente que a economia brasileira cresce novamente pelo pilar do consumo das famílias. É um resultado claro de uma retroalimentação positiva do emprego gerando emprego, o que ajuda a massa de salários, mas que também é proveniente da aquisição de crédito (endividamento) e queima de poupança. Fora isso, há de se considerar o avanço de políticas assistenciais que injetaram e injetam bilhões na economia. 

Se no curto prazo este modelo de crescimento gera resultados, também se sabe que o pilar do consumo tem prazo de validade restrito quando o mesmo é praticamente o único motor da economia. Seja pelo avanço da demanda superar ao ritmo de oferta, o que gera inflação, ou pelo esgotamento fiscal para sustentação de equilíbrio e confiança na saúde financeira do setor público, as trincas deste modelo sempre aparecem; mais dia, menos dia.

Inclusive, já se nota um movimento ascendente das expectativas inflacionárias no país, tanto que o risco de essa desancoragem ocorrer paralisou o Banco Central de dar continuidade às reduções de juros em 2024. E fica claro que esse rearranjo dos juros, motivada pela preocupação com a inflação, também provém de aumento do risco fiscal brasileiro, haja vista os movimentos recentes do câmbio a cada fala “despretensiosa” de nossos governantes. 

Em suma, não se nega o aquecimento econômico brasileiro no curto prazo. O que traz preocupações, até pelo histórico, é que a falta de um ambiente mais propício aos avanços de produtividade doméstica, seja na mão de obra ou para maior absorção tecnológica, e o desrespeito aos níveis sustentáveis dos gastos públicos, tendem a nos levar de novo ao perigoso caminho do risco inflacionário e desequilíbrio fiscal. Para 2024 o cenário está até que meio dado, e continua forte, mas há que se compreender as fragilidades nos horizontes para que possamos nos planejar antecipadamente em relação aos desafios que tendem a nos afligir. 

Seguem abaixo as nossas projeções aos principais indicadores macroeconômicos ainda para 2024:

  • PIB: 2,4%
  • IPCA: 4,30%
  • SELIC: 10,50% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,35
  • Balança comercial: + US$ 80 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD): 6,8%
  • Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +3,0%
  • Volume de serviços BR (12 meses): +2,4%

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