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Por Jaime Vasconcellos, economista.

Passado o período de maiores incertezas quanto aos impactos econômicos, seja em razão do desastre no Rio Grande do Sul, da paralisação no descenso da Taxa Básica de Juros (Selic) ou até mesmo da rápida desvalorização do Real frente ao Dólar, o horizonte começa a voltar a ser mais visível.

De trás para frente, o nosso câmbio bateu quase R$5,70 no início de julho, puxado basicamente pelo aumento da desconfiança do mercado após as manifestações públicas do atual executivo quanto ao “pouco” compromisso com o controle dos seus próprios gastos. Contribuiu (e apenas contribuiu) com isso, pelo lado internacional, a perspectiva de que os juros americanos talvez pudessem se manter mais elevados que o estimado, devido a economia dos Estados Unidos, e seus preços, ainda mostrarem ritmo resiliente de expansão. 

No braço de ferro doméstico, o governo pisou no freio e retomou o discurso de maior pragmatismo com os seus gastos, e até o contingenciamento de alguns bilhões foi citado, ainda que na prática nada tenha sido anunciado ou ao menos vislumbrado. Ainda nos Estados Unidos, sinais tímidos de arrefecimento de preços e de ritmo econômico já animaram alguns analistas para a possibilidade de corte de juros ainda em 2024. Esses freios até ajudaram o nosso câmbio a diminuir aquela pressão e voltar a ficar abaixo dos R$5,50, todavia ainda está muito acima do previsto para o final do ano pelo Boletim Focus (BCB), que em meados de junho era estimado em R$5,13.

Talvez a única nova boa notícia dos últimos dias em nossa economia tenha sido a inflação (IPCA) de junho: 0,21%, abaixo das estimativas. A projeção se calcava em um impacto maior da crise no estado gaúcho no indicador, que mede a variação do nível geral de preços da economia brasileira. Fora isso, se mantém os bons números de comércio e serviços (volume), que acumulados até maio variam positivamente cerca de 5% e 2%, respectivamente, em relação a 2023. 

Em suma, agora com o adicional de uma maior crise de confiança que paira entre o mercado e o governo, voltamos ao terreno de um ano com indicadores internos ligeiramente melhores do que o esperado e calcado em um cenário de consumo sustentado ainda por um mercado de trabalho resiliente, por políticas fiscais expansionistas e pelo crédito. É uma receita que até traz resultados de curto prazo, mas que nas últimas semanas se mostrou mais frágil do que já seria exatamente por um cenário de incertezas e pouca confiança quanto à saúde fiscal do país. O termômetro disso acabou (e sempre acaba) sendo o câmbio, talvez o indicador mais volátil e suscetível aos movimentos de curtíssimo prazo do mercado.

Para nós, consumidores individuais ou empreendedores, o problema é que a disputa de narrativas gera impactos reais. O câmbio, por exemplo, mantendo-se em outro patamar (mais alto), impacta diretamente nos preços e consequentemente no bolso das pessoas físicas e no caixa das empresas. E mesmo com algumas notícias pontuais mais alentadoras, como foi da inflação em junho, é na economia real que os desafios são e se mantêm elevados. 

Seguem abaixo as nossas projeções aos principais indicadores macroeconômicos para o fim de 2024:

  • PIB: 2,2%
  • IPCA: 4,00%
  • SELIC: 10,50% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,25
  • Balança comercial: + US$ 80 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD): 7,4%
  • Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +3,0%
  • Volume de serviços BR (12 meses): +2,0%

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