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Por Jaime Vasconcellos, economista. 

Enquanto ainda é impossível prever numericamente os impactos do desastre em andamento no Rio Grande do Sul, a nossa economia nas últimas semanas continuou mostrando resiliência de curto prazo e, com isso, os seus novos resultados continuam dando o tom do aquecimento acima do previsto em 2024.

A inflação (IPCA) de abril, mesmo com certa pressão dos alimentos e do reajuste de medicamentos, veio comportada em 0,38%, sendo a menor taxa de 12 meses desde junho de 2023, 3,69%. O IBGE também mostrou que o volume de vendas do comércio ampliado avançou 4,6% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, puxado por alimentos, medicamentos e veículos. Já o setor de serviços avançou 1,2% até março, influenciado principalmente pelos serviços prestados às famílias e de informação e comunicação.

Um dos principais motores, se não o principal, do consumo interno continua sendo o mercado de trabalho. Tanto o Novo Caged, que nos mostra um primeiro trimestre gerando mais de 700 mil novas vagas celetistas – 34% a mais que o mesmo período do ano passado, quanto a PNAD Contínua do IBGE, que apresentou taxa de desocupação abaixo dos 8%, mesmo em período de sazonalidade negativa (primeiros quadrimestres), comprovam tal tese.

Esse otimismo trazido pelo aquecimento acima do esperado da economia doméstica faz com que as projeções do PIB se aproximem cada vez mais de 2,5% para 2024. Ainda assim, há rachaduras na sua capacidade de sustentação ao longo prazo. Ainda não se sabe o tamanho (numérico) da crise do Rio Grande do Sul, pois certamente haverá impactos profundos na atividade econômica (PIB) e também nos preços. O Banco Central tem se mostrado mais preocupado com o segundo fenômeno, e não apenas devido às expectativas de avanço do custo de alimentos, que é o grupo de mercadorias com impacto dos choques de oferta provenientes do desastre no sul do país. 

Além das avarias na economia gaúcha, a perda de ritmo das quedas da Selic pode retirar (ou amenizar) o potencial de crescimento econômico dos meses que nos seguem. E neste caso, longe dos desdobramentos das enchentes serem o principal motivo de cautela do Copom (Comitê de Política Monetária) nesta última decisão de baixar a Selic em apenas 0,25 p.p. Os poucos cuidados com o equilíbrio fiscal, a piora do quadro externo e o próprio ritmo aquecido da economia brasileira têm trazido ameaças de uma inflação mais persistente no país.  

Por enquanto, ainda surfamos em uma maré de surpresas relativamente agradáveis do ritmo econômico de 2024, todavia, os impactos do lamentável desastre que continua ocorrendo no Rio Grande do Sul, aliado às próprias fragilidades conhecidas de um modelo de crescimento quase exclusivamente pautado no consumo das famílias, tendem a ser relevantes desafios ao crescimento econômico no médio prazo.

Isto posto, seguem abaixo nossas projeções para o fim de 2024 dos principais indicadores macroeconômicos:

  • PIB: 2,2%
  • IPCA: 3,75%
  • SELIC: 9,75% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,05
  • Balança comercial: + US$ 80 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD): 7,8%
  • Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +2,0%
  • Volume de serviços BR (12 meses): +2,2%

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