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Por Jaime Vasconcellos, economista. 

Até a semana passada quem analisava o andamento da economia brasileira em 2024 focava em grande parte nos bons ventos das projeções cada vez melhores de alguns indicadores. Tem sido assim com o Produto Interno Bruto (PIB) projetado mais alto, inflação mais baixa e geração de empregos em ritmo mais forte que o esperado. Todavia, bastou aumentar o risco de um conflito militar entre Irã-Israel, aparecer mais dados de força da economia americana e o anúncio que a meta fiscal brasileira para 2025 será de 0%, ao contrário de um superávit de 0,5% do PIB, para que o cenário conjuntural de confiança fosse por água abaixo, como ocorreu com a bolsa e ocorrendo o oposto com o dólar nos últimos dias. 

Veja, não estamos diminuindo a importância dessas novidades, mas sim o oposto, explicaremos o motivo da necessidade delas serem levadas a sério, pois podem, e devem, dificultar nossa vida ainda em 2024. O aumento das tensões no Oriente Médio tem forte capacidade de impactar cadeias do comércio e em especial o preço do petróleo. Isso nos atingiria via preço dos combustíveis, elevando os indicadores inflacionários e limitando novas quedas de juros (Selic).

Os bons números da economia americana reforçam o cenário de que os juros lá não cairão tão cedo. Isso retira dólares que viriam ao nosso mercado e deprecia a nossa taxa de câmbio. Isso novamente pode impactar os preços domésticos por meio de custos mais altos de produtos e serviços importados, o que atingiria o ritmo de nossa inflação e, mais uma vez, a trajetória atual dos juros.

Por último, e talvez mais preocupante do ponto de vista interno, é o problema do descompasso das políticas monetária e fiscal. Para o Banco Central continuar a reduzir juros (o que é ótimo para economia), o Governo precisa equilibrar os seus gastos, dado que isso também condiciona o ritmo inflacionário no país, que o próprio Banco Central tenta modular por intermédio da taxa básica de juro (Selic). Se está claro que em 2024 viveremos com um déficit público (quando o Governo gasta mais do que arrecada) e isso no máximo se equilibrará em 2025, aumenta-se a desconfiança nos mercados e diminui a esperança de juros menores na economia –  inclusive para todos nós, empresários, colaboradores e consumidores em geral. Tanto que a chance de finalizarmos o ano com a Selic próxima a 9% ao ano é no mínimo remota.

Em suma, o que se viu nos últimos dias é que, a despeito de melhores projeções à economia brasileira em 2024, novamente o nosso ritmo de sustentação fica ameaçado pelas intempéries da geopolítica mundial e, principalmente, pela incapacidade (ou pouca capacidade) de uma gestão mais eficiente das contas públicas e do tamanho do Estado. Em resumo, em um curto prazo o cenário até está dado, mas é o futuro próximo que nos preocupa.

Com isso, seguem abaixo as nossas projeções para os principais indicadores macroeconômicos para o fim de 2024:

  • PIB: 2,0%
  • IPCA: 3,75%
  • SELIC: 9,75% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,00
  • Balança comercial: + US$ 80 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD): 7,9%
  • Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +2,0%
  • Volume de serviços BR (12 meses): +2,2%

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