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Por Jaime Vasconcellos, economista.

Bastaram as primeiras divulgações dos indicadores referentes a janeiro de 2024 para o cenário macroeconômico mostrar surpresas e todos os analistas, inclusive o autor deste artigo, ajustarem as expectativas para o decorrer do ano. De início, cabe-nos ressaltar que os primeiros números setoriais (comércio e serviços), bem como geração de emprego e a própria prévia do PIB (índice IBC-Br) nos mostraram que nossa economia começou o ano mais aquecida que o previsto.

A Pesquisa Mensal do Comércio (IBGE) revelou que o volume vendas no varejo restrito (que exclui materiais de construção e veículos) cresceu 2,5% em janeiro contra dezembro (com ajuste sazonal), após vir de uma queda em dezembro. Inclusive, tivemos o maior avanço percentual neste tipo de comparação desde setembro do ano passado. Já o desempenho do setor de serviços, avaliado por meio da Pesquisa Mensal de Serviços (IBGE), avançou em janeiro razoáveis 0,7% no volume, sendo o terceiro aumento seguido.

Se os indicadores setoriais vieram melhores que o projetado, naturalmente a geração de emprego também teria potencial de nos surpreender para cima, dado que emprego é decisão de investimento posterior ao desempenho das receitas empresariais. O Caged apontou um avanço de mais de 180 mil novas vagas com carteira assinada criadas no país nesse primeiro mês de 2024, quando a estimativa inicial circundava um acréscimo de 100 mil postos de trabalho. O patamar auferido, além disso, foi o dobro do registrado em janeiro de 2023. Com esse cenário, nada mais justo que o indicador prévio do PIB também mostrasse sua resiliência. Tanto que o IBC-Br, que projeta o ritmo de atividade econômica mês a mês no Brasil, apresentou em janeiro avanço de 0,6%, além do esperado.

Os números positivos trazem uma surpresa boa da economia, que mostra sua força e resiliência em meio a um processo mais tímido de desaceleração. Em verdade, estamos impactados pelos benefícios de curto prazo da demanda ainda aquecida, dada inflação mais baixa, retração de juros e até mesmo do arrefecimento de endividamento familiar.

E de onde vem os riscos a este cenário, melhor que o esperado? Considerando a economia brasileira, quando se tem uma demanda resistente (que é uma boa notícia), ao mesmo tempo já se liga o sinal de alerta para alguma pressão inflacionária, dada a problemática capacidade estrutural do ambiente de negócios que inibe avanços mais significativos de investimento no país, que garantiria também a evolução do lado da oferta. E estamos falando de bens, serviços, infraestrutura, profissionais qualificados etc.

O resultado desse “sinal amarelo” é que se a demanda realmente se consolidar mais resiliente que a esperada, retorna um risco inflacionário e consequente (e real) possibilidade de menor ritmo do corte nos juros básicos da economia (Selic). E é exatamente a redução sustentada dos juros onde mora a esperança de um crescimento econômico mais equilibrado. Ou seja, infelizmente nem nas boas notícias do início do ano nos afastamos dos riscos que normalmente nos atingem, dado que mesmo com conjuntura mais favorável, sempre esbarramos nas dificuldades econômicas e sociais que estruturalmente nos aflige.

Veremos o que nos aguarda nos próximos meses. Isto posto, seguem abaixo as nossas projeções aos principais indicadores macroeconômicos para o fim de 2024:

  • PIB: 1,8%
  • IPCA: 4,0%
  • SELIC: 9,25% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,00
  • Balança comercial: + US$ 75 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano: 7,9%
  • Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +1,5%
  • Volume de serviços BR (12 meses): +2,2%

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