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Por Jaime Vasconcellos, economista.

Poucas foram as mudanças nos indicadores macroeconômicos projetados nas últimas semanas. Mantém-se o cenário no qual o Produto Interno Bruto (PIB) estimado avançará pouco mais da metade do ano passado, com pouca pressão, ou ao menos controlada, de inflação e câmbio, o que abre margem para a continuidade de mais reduções dos juros básicos da economia. 

Ainda assim, nossa carta conjuntural focará as estimativas em um dos principais motores da demanda nos últimos anos, e que inclusive garantiu que em 2023 tivéssemos um avanço econômico bem acima das primeiras projeções. Estamos falando do mercado de trabalho, ou melhor, de seu crescimento. Esse é um indicador que já demonstra cansaço e começa a acender o sinal amarelo.

Segundo o Novo Caged, enquanto em 2020 o país perdeu cerca de 200 mil empregos celetistas, entre 2021 e 2023 foram geradas mais de 6,2 milhões de vagas. Tal avanço garantiu o aumento da massa de salários, bem como, e consequentemente, o acesso a crédito e o aquecimento da demanda. Olhando não apenas aos vínculos celetistas, mas o cenário da ocupação mais ampla, a PNAD Contínua (IBGE) nos apresentou uma queda brusca da taxa de desocupação no país: de março de 2021, durante a segunda onda da pandemia, a dezembro de 2023 o percentual de desocupados passou de 14,9% para 7,4% no Brasil.

Se, por um lado, o reforço do mercado de trabalho sustentou a demanda interna e auxiliou ao avanço até mesmo acima das expectativas do PIB nos últimos anos, por outro, esse cenário mostra enfraquecimento e para 2024 nos parece que os efeitos positivos que novas vagas criadas poderiam estimular a economia serão mais tímidos. Primeiro pela própria limitação da economia brasileira em continuar a gerar empregos nos patamares vistos e, segundo, devido aos efeitos da necessária política monetária contracionista que, com o seu natural atraso de influência (delay), chegaria aos indicadores da economia real, como ao emprego. 

Prova disso é que em 2023 o Novo Caged mesmo mostrando avanço de quase 1,5 milhão de vínculos adicionados, tal patamar foi inferior ao saldo de cerca de 2 milhões vistos em 2022 e quase metade dos 2,8 milhões de 2021. E essa desaceleração não para aí. Em 2024 a expectativa é que entre admitidos e desligados, algo em torno de 1 milhão de novas vagas, mostrando ser mais um capítulo do ritmo menos acelerado do crescimento do mercado de trabalho. E se a PNAD apresentou ao fim de 2023 taxa de desocupação de 7,4%, é bastante provável que encerremos o atual ano entre 7,5% e 8%.

Em suma, estamos longe de mostrar um cenário plenamente preocupante do mercado de trabalho, que seria a presença de saldos negativos de empregos com carteira assinada, ou avanço mais significativo da taxa de desocupação. Todavia, é importante destacar que um dos motivos de projeções mais tímidas no desempenho econômico de 2024 provém também da constatação de que o avanço do mercado de trabalho será mais contido e ainda sem horizonte na transposição de seus desafios estruturais, como a baixa qualificação dos candidatos e, por conseguinte, do rendimento das novas vagas, elevado número de desalentados e do alto grau de informalidade, que nos acompanha há décadas. Portanto, novamente sinal amarelo ligado.

Como de costume, seguem abaixo as nossas projeções dos principais indicadores macroeconômicos nacionais para o fim de 2024:

  • PIB: 1,75%
  • IPCA: 3,9%
  • SELIC: 9,00% a.a.
  • Taxa de Câmbio: 5,00
  • Balança comercial: + US$ 65 bi
  • Taxa de desemprego ao fim do ano: 7,9%
  • Vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +1,3%
  • Volume dos serviços BR (12 meses): +2,0%

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