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Jaime Vasconcellos, economista.

Fechando as análises econômicas do primeiro semestre de 2023, é difícil contestar que o desempenho econômico de 2023 tem sido melhor que o esperado, seja observando os dados já divulgados nos primeiros seis meses ou em relação às projeções do que deverá ser o ano como um todo.

Com preços de commodities internacionais mais arrefecidos e políticas internas de redução no valor dos combustíveis – que impactam os preços de outras mercadorias, não apenas tivemos uma inflação mais baixa em 2023 (+2,87% acumulados no 1º semestre) do que em 2022 (+5,49% acumulados no 1º semestre), como no último mês junho registramos a primeira deflação para o período desde 2017.

Pelo lado do emprego com carteira assinada, de janeiro a maio de 2023 são mais de 865 mil novos postos de trabalho no país. Até se esperava um saldo positivo menor que as 1,1 milhão de vagas no mesmo período de 2022, porém o patamar atingido ficou bem acima do que era projetado, algo não muito superior aos 500 mil empregos que poderiam ser criados. E cabe-nos ressaltar que os dados provenientes do Caged continuaram inflados pelo setor de serviços: +521 mil postos de janeiro a maio de 2023.

Com inflação arrefecida, câmbio comportado e emprego resiliente, junto de um processo de certa estabilidade entre os poderes da nação, o que se viu foi uma melhoria das projeções do próprio desempenho geral da economia brasileira. No início de 2023 chegou-se a projetar que nosso crescimento este ano não passaria de +0,8%. Na fotografia deste início de segundo semestre estima-se com certa segurança que avançaremos acima dos +2%, com uma inflação que se horizonta abaixo dos 5%.

Em meio a tantos exemplos de ganhos de otimismo em 2023, onde estão os nossos riscos? O primeiro risco de freio deste otimismo é a possibilidade de um segundo semestre relativamente mais fraco que o primeiro, ambos em comparação ao ano passado. É importante explicar que boa parte da melhora da economia se deu pelo controle inflacionário, trazido pelos próprios impactos de um avanço dos juros, com o objetivo claro e simples de segurar os preços gerais da economia. O sucesso nesta ação trouxe consigo uma consequência negativa, dado que para se controlar preços via o arrefecimento da demanda, resulta em malefícios ao ritmo de crescimento econômico. E é este ritmo mais fraco que os juros mais altos nos impuseram que será mais visível no segundo semestre, ainda que exista projeções para o início de queda na taxa básica de juros brasileira.

Outro ponto de atenção se dá pela saúde das contas públicas do país. Mesmo com o novo arcabouço fiscal aprovado, a realidade é que temos um Estado inchado, gastador e que necessita de fontes de custeio, frente a um avanço preocupante de seu endividamento. Se houver pouco cuidado com as contas públicas, corremos o risco de crises de confiança sobre a nossa sustentabilidade no custeio, o que agravaria significativamente o cenário macroeconômico.

Por último, destacamos como pontos da economia internacional para nos atentarmos. Há de se acompanhar ainda as possíveis implicações do avanço da guerra na Ucrânia, principalmente em relação aos seus impactos nos preços de commodities internacionais, e também do próprio ritmo de crescimento chinês pós reabertura, com o controle da Covid-19. Ambos os cenários internacionais têm potencial razoável de acelerar ou desacelerar o ritmo econômico brasileiro. Por este e outros pontos, nem tudo são flores.

A despeito dos pontos de atenção supracitados, cabe-nos relembrar dos pontos positivos também destacados inicialmente e atualizar com alguma ascensão as nossas projeções para 2023:

PIB: +2,2%                                         

IPCA: +5,0%                                        

SELIC: 12,25% a.a.

Taxa de Câmbio: 5,00

Balança comercial: + US$ 50 bi

Vendas do comércio BR: +1,3%

Volume dos serviços BR: +2,7%


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