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Jaime Vasconcellos, economista.

Enquanto não se vota um novo regramento fiscal e nem mesmo são pautadas as alterações tributárias, trabalhistas e administrativas do país, as principais mudanças do quadro macroeconômico nas últimas semanas são provenientes dos indicadores inflacionários, especialmente após a decisão da Petrobrás de mudar a sua política de preços, bem como o seu anúncio da queda significativa nos valores da gasolina (-12,6%), diesel (-12,8%) e gás de cozinha (-21,3%).

Essas reduções já trouxeram para baixo as expectativas do mercado quanto ao que deve acontecer com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ao fim de 2023. As projeções divulgadas no Boletim Focus (BCB) baixaram dos 6% para 5,80%. De toda forma, é nosso papel alertar que existe uma expectativa que a redução dos preços dos combustíveis seja diluída já em junho, com a entrada em vigor da alíquota única do ICMS, e que deve gerar aumentos de preços na maioria dos estados brasileiros. Salvo qualquer outro anúncio parecido com o de maio ou de outro tipo de desoneração em tais mercadorias, o impacto prático das reduções recém anunciadas pode ser neutralizado.

Outro ponto que nos chamou atenção essa semana foi o avanço das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para o fim de 2023, passando de cerca de 1% para 1,2%. Parece pouco, mas esta aceleração contrapõe a primeira projeção realizada no boletim deste ano, que esperava um avanço de apenas 0,78% da economia nacional. Os bons números do setor de serviços, depois que a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS/IBGE) nos mostrou que seu volume avançou 5,8% na comparação do primeiro trimestre de 2023 contra mesmo período do ano anterior, aliado ao bom crescimento do mercado de trabalho, com avanço de cerca de 520 mil novos postos de trabalho também nos primeiros três meses, puxam para cima o indicador de desempenho geral da economia brasileira.

Isso posto, nosso ponto de dúvida se volta à política monetária. De um lado, temos o Banco Central que deve manter posição que as inflações mensais divulgadas pelo IPCA, bem como o seu núcleo, ultimamente se mantêm acima do ideal. Portanto, não há espaço para uma redução da Taxa Selic. Do outro lado, temos o governo tentando mostrar que basta o seu pacote fiscal ser aprovado para que se reduzam os juros da economia. Fora a retórica, de que com o índice oficial da inflação nacional se mantendo próximo (ou mesmo abaixo) dos 4% no acumulado de doze meses, aumenta-se a pressão para que o Banco Central inicie um processo de redução da taxa básica de juros, dado que o país se aproxima de possuir uma taxa real de juros próxima aos dois dígitos.

Este economista que vos escreve, ainda que compreenda a função e o cuidado que o Banco Central tem tido para que suas atitudes não alavanquem uma nova pressão aos preços, posto que temos uma inflação de demanda, também observa que se os dados inflacionários de maio, junho e julho, que sazonalmente são mais civilizados, vierem desta forma em 2023, o modulador da política monetária (BCB) não conseguirá evitar um processo de redução tímida e gradual da Selic nas próximas semanas.

Se este movimento do Comitê de Política Monetária será precoce ou tardio, somente os meses seguintes nos dirão. Pessoalmente eu compreendo os duros impactos que os juros elevados impõem na vida de empresas e famílias, mas também defendo que o retorno da inflação, sendo um fenômeno da moeda, é o que mais deveria nos preocupar, dado o tamanho do seu impacto na sociedade, bem como a dificuldade e o custo para combatê-la.

Para finalizar, seguem atualizadas as nossas projeções macroeconômicas para 2023:

PIB: +1,2%                                                     

IPCA: +6%                                                    

SELIC: 12,75% a.a.

Taxa de Câmbio: 5,20

Balança comercial: + US$ 65 bi

Vendas do comércio BR: +0,8%

Volume dos serviços BR: +1,5%


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