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Levantamento realizado pelo Sincomavi, entre os dias 14 e 22 de outubro, com 89 comerciantes, mostra uma grande preocupação dos empresários de material de construção em relação aos aumentos sucessivos de preços e a falta de produtos. Tal sentimento não ocorre sem razão, todos os consultados afirmaram ter sofrido com reajustes superiores a 6%, sendo que quase a metade (49%) estimou a elevação de preços em mais de 20% nos últimos 60 dias.

O desabastecimento também atingiu a ampla maioria dos estabelecimentos do setor e não escolhe porte de empresa, afetando inclusive as operações de home centers. Essa situação se revela bastante grave, pois várias linhas de produtos estão apresentando falhas na reposição há muito tempo.  Segundo o levantamento do Sincomavi, 96% das lojas tiveram problemas em setembro com a suspensão de vendas em função da falta de produtos.

Apesar da realidade estar presente nos mais diferentes segmentos, a liderança no desabastecimento permanece com material hidráulico, mencionado por 76% dos comerciantes. Elétrica, revestimentos, cimento e cal também contaram com destaque negativo.

É possível citar o aumento não previsto na demanda, estimulada pela retomada do mercado imobiliário e das pequenas reformas residenciais, como um dos fatores para o atual estado de desabastecimento de mercado. No entanto, a situação deve ser atribuída principalmente ao planejamento inadequado, falta de novos investimentos e nas dificuldades dos fabricantes em comprar matérias-primas, como revela a SondEsp 78 – Mercado de Insumos e matérias-primas, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Dentro do âmbito nacional, 68% das indústrias consultadas afirmaram enfrentar problemas para aquisição. Já em relação aos importados, apesar de números inferiores, os obstáculos se revelam igualmente graves: 56% enfrentam dificuldades.

Fonte: CNI

A normalização parece ainda algo distante. O levantamento realizado pelo Sincomavi verificou que a expectativa da maioria dos comerciantes (46%) é regularizar a situação entre 30 e 60 dias. No entanto, boa parte afirma ainda não ser possível fazer uma previsão precisa (29%).

Mercado ainda aquecido?

A euforia pelo aumento de vendas começa a dar espaço a uma preocupação justificada. 65% dos comerciantes afirmaram ter elevado o faturamento desde o início da pandemia: 26% tiveram mais de 15% de alta e 39% contaram com elevação de até 15%. No entanto, o resultado positivo não se mostra verdadeiro para todos: 19% registraram estabilidade, 11% queda de até 15% e 4% recuo superior a 15%.

Em setembro, tendo como referência o mesmo período do ano passado, o desempenho também se mostrou positivo para boa parte dos varejistas, com 49% das empresas fechando o mês com elevação. Entretanto, o número de empresas que mencionaram queda ou estabilidade nas vendas avançou consideravelmente, o que aponta para uma tendência de arrefecimento no consumo, movimento que pode estar sendo motivado pelo desabastecimento e aumento de preços.

Análise

O economista Jaime Vasconcellos comenta que a sondagem do Sincomavi confirma que o setor sentiu os efeitos de aquecimento da demanda após os primeiros impactos da pandemia, ainda que em setembro tal cenário tenha se mostrado menos favorável que nos meses anteriores. “Porém, duas preocupações são latentes e põem em risco a continuidade dos bons números. Estamos falando do aumento de preços frente a uma demanda forte e até mesmo a falta de produtos já sentida pela maioria dos empresários varejistas”.  A oferta da indústria de materiais de construção não conseguiu acompanhar a alta procura dos clientes no varejo. Em muitos casos, segundo Jaime, é reportada inclusive a falta de matérias-primas. “Sem contar os efeitos do real desvalorizado, que barateia exportações e leva parte da produção interna ao mercado internacional, pressionando ainda mais os preços”, adverte.

Essa situação demonstra outra realidade bastante desafiadora. A inflação do setor não vem somente da demanda de consumidores buscando mercadorias para suas melhorias domiciliares, pequenas reformas ou para construção. Em sua opinião, ela também tem origem na cadeia de produção e distribuição, dado que há menor oferta. “Neste sentido, o varejista é somente um elo que paga mais caro aos seus atacadistas e dilui o possível em sua margem para impactar menos o preço ao cliente final. E nem sempre há espaço de manobra para isso”, argumenta.

Jaime lembra ainda que tal cenário mostra o quão é essencial por parte da gestão interna do estabelecimento varejista o pragmatismo na negociação com fornecedores, na avaliação do seu nível de estoques, calibramento dos prazos de estoque, venda e recebimento, bem como de precificação e promoções. “Tudo isso para não ficar com furos no fluxo de caixa ou perder capital de giro. É um exercício hercúleo, mas necessário por ser uma realidade pontual, dado que a economia sempre busca seu ponto de equilíbrio e, neste caso, não será diferente”, finaliza.

Comentários

Comerciantes demonstram muita preocupação com a situação do mercado e sentem dificuldades para encontrar uma solução.


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