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Dimensionar o tamanho preciso do impacto da pandemia do Coronavírus na economia brasileira, sobretudo no comércio, será motivo de muitos estudos e teses acadêmicas durante anos. No entanto, é possível atualmente vislumbrar um quadro muito negativo das vendas do setor com a quarentena determinada pelos poderes públicos paulistas. Apesar da surpresa causada, a primeira semana de fechamento das lojas não foi a mais sentida pelo varejo de material de construção. Isso porque muitas obras e entregas já estavam programadas e vários clientes se valeram dos canais eletrônicos para finalizar suas compras e encomendas.

Tal cenário pode ser melhor vislumbrado com o estudo “Impactos Econômicos do Covid-19”, da Elo Performance & Insights. A variação de faturamento diário (cartão de débito) ficou em -1% nos âmbitos dos mercados paulista e carioca do varejo de material de construção. Os resultados alcançados nos primeiros 20 dias do mês de março também se revelaram bastante favoráveis, tanto que a comparação com fevereiro, mesmo com o lockout, ainda se apresentou dentro da faixa positiva (confira aqui).

Para Cláudio Araújo de Lima, diretor do Sincomavi e da City Materiais para Construção, desde dezembro do ano passado os números não se mostravam os desejados, apesar da pequena recuperação em janeiro. “No meu caso, os blocos carnavalescos acabaram por prejudicar muito as vendas em fevereiro”, comenta. “Em março, até o dia 20, o faturamento alcançado era de 75% do obtido em fevereiro”. Especializada em vendas corporativas, a City acabou por sentir realmente o baque no início de abril, quando a loja reabriu ao público, com queda estimada das vendas em 44%. “Muitos consumidores finalizaram o que tinham para fazer e não há perspectivas de novas obras”. Em sua opinião, o cenário indefinido e o risco de empregar dinheiro nesse momento têm desmotivado o mercado corporativo.

Em razão de atender o consumidor final, a experiência vivida pela Irmãos Suguiura Materiais para Construção se mostra muito mais crítica. A empresa sofreu um recuo de 95,35% no período de fechamento, entre 20 e 29 de março. “Fizemos vendas somente pelo site e WhatsApp”, comenta Alexandre Suguiura, diretor da empresa. “Os negócios foram quase nulos, pois não tínhamos uma estrutura adequada de atendimento online”. Hoje, o rombo causado pelo fechamento é visto como coisa do passado. A preocupação agora é honrar compromissos e, para tanto, foi necessário buscar crédito no mercado.

Após a reabertura em horário reduzido das lojas da rede, com toda a segurança aos consumidores e colaboradores, a administração buscou reter conhecimento dessa experiência negativa. A crise vivida se mostrou importante por comprovar que os canais eletrônicos ainda permanecem em nível complementar nas operações. “As vendas por WhatsApp, por exemplo, demoram 10 vezes mais, são onerosas e pouco rentáveis”, adverte. Apesar de todos os problemas, Alexandre considera o cenário que se apresenta ao varejo de material de construção mais positivo do que para outros segmentos do comércio em razão de ser considerado essencial. “Será um período muito difícil para os comerciantes, mas acredito que, no máximo, em seis meses ou até o final do ano tenha início a recuperação das vendas”.

Riscos

Reinaldo Pedro Correa, presidente do Sincomavi e proprietário da Correa Tintas, traça um cenário muito similar com queda nas vendas de 50%. “Muitos clientes solicitaram a entrega do material, mas passado esse período não tiveram projetos novos e muitas oficinas continuam com as portas fechadas até hoje pela falta de trabalho”. A Correa Tintas atende predominantemente o mercado de repintura automotiva. Diante desse quadro, Reinaldo optou por reduzir o período de atendimento até as 13 horas, como forma de preservar a saúde e diminuir a exposição de consumidores e funcionários. “Além da Covid-19, existe o risco de assaltos em razão da região ter ficado muito vazia”.

O segmento de vidros contabilizou também, como não poderia deixar de ser, queda nas vendas. Vitor Maione Samos, diretor da Color Vidros, afirma que manteve somente atendimento não presencial após a decretação da quarentena, em 20 de março. “O problema é que os condomínios passaram a não permitir a entrada de prestadores de serviços. Com isso, as vidraçarias ficaram sem trabalho”. Houve uma redução no faturamento da Color Vidros, entre março e abril, de 62%, realidade que permanece até hoje. Além disso, outro problema teve de ser enfrentado: a alta na inadimplência. Segundo Vitor, a melhora nos negócios do setor passa obrigatoriamente pela liberação na entrada dos condomínios. “Existem algumas obras sem moradores, que podem ser atendidas com algumas restrições, e mercados específicos, caso dos projetos com produtos com maior valor agregado”. No entanto, a recuperação nos negócios do varejo de vidros se mantém atrelada ao fim da quarentena, fato que hoje ainda se mostra indefinido.

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