Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) mostra que existe entre os empresários do comércio uma expectativa positiva com a injeção extra de dinheiro na economia, a partir da liberação do FGTS e do pagamento do PIS/PASEP. O levantamento revela que 45,5% das empresas do comércio consultadas esperam aumento no volume de vendas – percentual superior aos 12,6% do setor de serviços. Em relação à magnitude do impacto, é consenso entre os empresários que a demanda não aumentará consideravelmente: para mais da metade, o impulso será moderado.
O economista Rodolpho Tobler, que coordenou o estudo sobre o impacto da liberação do FGTS junto com a também economista Viviane Seda, explica que entre os empresários do setor de serviços o ânimo é menor, apesar dos segmentos de manutenção e reparação, turismo e serviços prestados às famílias terem se destacado. “Mesmo com a decisão do governo de liberar um valor mais baixo do que o inicialmente era esperado (R$ 500 por conta no FGTS), os consumidores poderão utilizar o recurso extra para consumir algo que não estava no planejamento ou para antecipar algum tipo de consumo, como uma viagem, alimentação fora de casa etc.”.
O segmento de móveis e eletrodomésticos possui boas perspectivas em relação ao aumento de vendas. Essa projeção é justificada, segundo Rodolpho, em razão do segmento se beneficiar das vendas a prazo, dado que a concessão de crédito para pessoa física tem mostrado resultados positivos nos últimos meses.
Consumidores
O trabalho consultou ainda os consumidores para verificar quais os possíveis destinos para os recursos da liberação do FGTS e do pagamento do PIS/PASEP. O saque do dinheiro deve ser exercido por 52,3% dos beneficiados e o pagamento de dívidas (36,3%) foi o principal objetivo mencionado. São apontados ainda como prováveis destinos o consumo (32,3%) e a aplicação em poupança (27,2%). Em 2017, em estudo semelhante do FGV IBRE, 27,8% dos entrevistados informaram que usariam a renda extra para consumir.
Esse aumento na intenção de consumo se deve, segundo o pesquisador, ao cenário atual. “Em 2019, as condições financeiras das famílias parecem melhores (ou menos piores) que em 2017. Isso contribui para o aumento da parcela de brasileiros indicando consumo. Outro ponto que pode ter contribuído é o limite do saque em até R$ 500 reais por conta, diminuindo a proporção dos que estão dispostos a poupar”, argumenta.
Dívidas
Em relação às famílias de baixa renda, que compõem a maioria do universo beneficiado com a liberação do FGTS e do pagamento do PIS/PASEP (71,9%) e que ganham até R$ 2.100, o estudo revela somente um destino para os recursos: quitação de dívidas. Rodolpho comenta que, apesar da melhor condição financeira em 2019, em relação a 2017, o orçamento das famílias, principalmente de rendas mais baixas, continua comprometido. “Nesse caso, a prioridade é pagar dívidas. Mas isso acaba abrindo espaço no orçamento para novos tipos de consumo, mesmo que em um segundo momento”, finaliza.