Jaime Vasconcellos, economista.
Em nossa carta de conjuntura de outubro frisávamos quanto ao ambiente econômico naquele momento, que estava contaminado pelo período eleitoral, ainda mais à beira do segundo turno das eleições gerais. Passados 15 dias do seu desfecho, o que podemos observar é o mercado ainda baixando poeira com o pleito apertado e, ao mesmo tempo, ansioso pelo anúncio dos nomes que conduzirão a economia brasileira, dado que é pelas características dos escolhidos que se sabe o rumo que caminharemos a partir de 2023.
Tal realidade exposta tem ênfase exatamente pois projeta-se dois quadros, a depender das escolhas do novo governante. Por um lado, pode vir uma equipe mais ortodoxa, resultante da frente mais ampla de apoio ao eleito, com sinais de maior cuidado e responsabilidade fiscal. Por outro lado, há o temor do mercado em escolhas que beneficiem políticas de maiores gastos públicos, o que é visto como demasiadamente arriscado frente a um cenário de quebra do teto de gastos, de elevada taxa básica de juros (que condiciona o ritmo de crescimento da dívida pública) e do próprio avanço do tamanho do Estado. A tendência é que ainda em novembro seja esclarecido quem comandará a atual pasta da Economia.
Os eleitos deverão ter ainda dificuldades em relação ao perfil do congresso: mais conservador e visivelmente, em sua maioria numérica, mais inclinado ao atual governo, o que deverá exigir muita negociação e energia a ser gasta na aprovação de projetos.
A despeito das escolhas e da composição política de 2023, é possível vislumbrar ainda em 2022 o fim do ciclo de deflações, com os alimentos voltando a apresentar avanço médio de preços. Outro desafio tem sido os recordes sucessivos de endividamento e inadimplência familiar, que pode significar relevante freio à evolução do consumo e, consequentemente, ao ritmo econômico futuro do país. A inflação persistente, o custo mais caro do crédito e o endividamento familiar elevado são contrapontos aos bons números do mercado de trabalho.
A tendência até é um crescimento garantido e muito além do esperado para 2022, mas com um horizonte de maiores dificuldades em 2023. De toda forma, nos manteremos atentos às sinalizações deste ano e deixaremos para a carta de dezembro a nossa avaliação sobre o ano que vem.
Com isso, seguem as nossas projeções macroeconômicas para o encerramento de 2022:
• PIB: +3%
• IPCA: 5,75%
• SELIC: 13,75% a.a.
• Taxa de Câmbio: 5,20
• Balança comercial: + US$ 65 bi
• Vendas do varejo BR: +0,7%
• Volume dos serviços BR: +4%