Por Jaime Vasconcellos, economista.
Se no mês passado focamos nossa análise no cenário inflacionário brasileiro, após a divulgação do IPCA de março de 1,62%, agora em maio não teremos muito como mudar nosso foco, dado que é a inflação, e seus impactos, continuam preocupando a todos nós. O que parecia ser mais agudo e razoavelmente restrito ao dado de março, devido ao avanço de preços principalmente de combustíveis, parece que se espraiou fortemente para abril. Seja olhando o IPCA-15 (1,73%), seja avaliando o IPC-Fipe (1,62%), já se espera para o quarto mês do ano um novo significativo avanço do índice oficial de preços do país.
Com a continuidade do índice elevado, importante ressaltar que ainda que ele se mantenha nesses patamares puxado por mais de um grupo de mercadorias (é difundido), ainda se observa a liderança nos preços dos itens de alimentação. Este cenário é demasiado negativo às famílias de mais baixa renda, que gastam proporcionalmente parcela superior do seu salário com as mercadorias básicas, reduzindo assim o poder de compra do seu rendimento e dificultando sua própria subsistência.
Por si só a notícia acima é desoladora, permanecer a inflação do país acima de dois dígitos e com uma estrutura socioeconômica onde este avanço geral de preços impacta a mais frágil e numerosa parcela da população. Ainda que a inflação seja um fenômeno que se destaca praticamente em todo o mundo, seja devido aos impactos da guerra na Ucrânia, seja devido à quebra nas cadeias globais de comércio com os lockdowns nos portos chineses ou devido ao elevado grau de liquidez, ainda reflexo das injeções monetárias dos bancos centrais com a pandemia, no Brasil a estrutura desigual e distorcida da sociedade agrava os impactos práticos e reais de um avanço consistente dos preços.
E não é só pela ótica do consumidor e sua renda que observamos tamanha preocupação com a inflação. O empresário, além de ver a demanda de seus clientes mais fraca impactar suas vendas, é obrigado a rever paulatinamente sua capacidade de precificação, seja porque há aumentos de custos fixos no estabelecimento e/ou porque há sucessivos aumentos no preço provenientes de seus fornecedores. E ressalta-se que já pode ser observado um comportamento de reajustes preventivos por parte das empresas, algo comportamental, com objetivo de salvaguardar margens e que flerta com a perigosa inercialidade inflacionária.
A saída para tudo isso tem sido pelo campo monetário, isto é, por meio de juros. Por isso vemos reunião após reunião o Banco Central aumentando a taxa Selic, para diminuir apetite de consumo e investimentos e, ao mesmo tempo, segurar em patamares mais baixos a taxa de câmbio. Isso tudo para amenizar um processo inflacionário proveniente, pelo menos no Brasil, do lado da oferta. E olha que o objetivo atual do Banco Central já existe mais preocupação em relação a 2023 do que o ano 2022, o qual parece uma batalha perdida ao se tratar de inflação. O custo dessa amenização sempre acaba sendo o próprio crescimento da economia, que em maior parte é dependente do consumo das famílias. Veremos ainda mais famílias com o poder de compra não apenas menor, como também crédito ainda mais caro e níveis de endividamento e inadimplência em patamares perigosos.
Após este cenário cauteloso, seguem atualizadas nossas projeções macroeconômicas para o ano de 2022:
• PIB: +0,7%
• IPCA: 8,2%
• SELIC: 13,5%
• Taxa de Câmbio: 5,15
• Balança comercial: + US$ 60 bi
• Vendas do varejo: +0,5%
• Volume dos serviços: +1,5%