Por Jaime Vasconcellos, economista.
No front da conjuntura econômica brasileira não houve muitas novidades nas últimas semanas. O Produto Interno Bruto (PIB) estimado para 2025 continua ao redor de 2,0%. Não houve mudança também na projeção para os juros e câmbio do país. Talvez a única novidade, ainda que seja à margem, é um alívio da projeção inflacionária (IPCA), que se aproximava de 6% para o acumulado do ano e, dadas as últimas projeções de mercado, voltou a se aproximar dos 5,5% (veja abaixo).
Uma inflação um pouco menor, ainda que seja bem acima da meta estipulada, pode garantir uma paralisação mais rápida da trajetória ascendente dos juros básicos da economia, que hoje está em 14,25% ao ano e a aposta é que atinja os 15% a.a. até o fim de 2025. Caso não seja superado tais 15,00% ou necessário parar de subir em patamar até mesmo inferior a isto, garante-se menor pressão futura no custo de crédito para famílias e empresas, aliviando, com isso, o próprio ritmo de crescimento da economia para 2026.
Ainda que o cenário doméstico não tenha apresentado tantas alterações, no panorama externo a situação é bastante distinta. Continua o desafio de projetar o que ocorrerá com as correntes internacionais de comércio com a guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos e retribuída pela China e outras grandes potências econômicas. Em um primeiro momento espera-se até ganhos de mercado para as exportações brasileiras, dada a nossa menor sobretaxa advinda dos Estados Unidos em relação ao que foi aplicado a outros países. Com isso, é esperada uma aproximação ainda maior de nossa economia com a chinesa, bem como a possível abertura de mercado para outros países.
Isto posto, temos nesta análise acima inicial e positiva uma visão de curto prazo deste processo de recrudescimento tarifário mundial. O risco para todos, porém, será um resfriamento mais consistente da economia mundial se a inflação voltar a crescer em território americano e levar, com isso, ao retorno de aumentos de juros. Uma recessão dos EUA, que parece cada vez mais certa, pode até não causar automaticamente repercussão mundial, mas será um grande âncora para 2026.
Como as decisões tomadas pelo Governo Trump foram abruptas, e voltar atrás das mesmas não parece até este momento algo tão difícil, temos de ficar de olho dia após dia. Até este momento, há apenas poeira no ar, que pode baixar e engripar as engrenagens da economia mundial. Para nós brasileiros, que não estamos no alvo primário das recentes decisões norte-americanas, a situação ainda não é “brava”, porém está longe de manter-se garantida.
Estimativa para o fechamento de 2025 da economia brasileira.
- PIB: 2,0%
- Inflação (IPCA/IBGE): 5,65%
- Taxa SELIC: 15% a.a.
- Taxa de Câmbio: 5,90
- Balança comercial (em US$): + 75 bi
- Taxa de desocupação ao fim do ano (PNADc/IBGE): 6,7%
- Volume de vendas do comércio ampliado BR (PMC IBGE/12 meses): +2,5%
- Volume de serviços BR (PMS IBGE/12 meses): +2,2%