Por Jaime Vasconcellos, economista.
Se em janeiro falávamos que havia pouca mudança no cenário conjuntural da economia brasileira, em fevereiro as coisas parecem que pioraram um pouco, ainda que tenha ocorrido marginalmente, houve degradação nas projeções de dois dos principais indicadores macroeconômicos, o PIB (Produto Interno Bruto) e a Inflação, ambos avaliados pelo Boletim Focus, do Banco Central.
No caso do PIB projetado para 2025, aquela tímida ascensão semana a semana do percentual estimado não apenas paralisou, como voltou a ficar próxima dos 2%, o que traz certo ceticismo a um cenário de alguns otimistas, que o nosso PIB cresceria mais próximo dos 2,5% no atual ano. Já a inflação novamente ficou no foco nos debates, até porque se sabe que as baixas variações de janeiro foram causadas por efeitos atípicos, como de energia elétrica, e que já em fevereiro um salto bem mais significativo deve ser registrado no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IBGE).
E no caso da pressão dos preços, cabe-nos uma consideração adicional: se a inflação oficial do país esteve próxima dos 5% no acumulado de 2024, para 2025 ela começa a ser estimada cada vez mais próxima dos 6%, o que é perigoso para além do tamanho do aumento, pois nem o avanço sucessivo dos juros parece causar o impacto necessário e esperado de arrefecimento nos preços. Isso volta a trazer a discussão se estamos ou não vivenciando uma chamada “dominância fiscal”, fenômeno no qual a expansão dos gastos públicos (lado fiscal) inibe os efeitos contracionistas de uma política monetária (aumento de juros) que visa desacelerar o aumento dos preços médios no país.
Sejamos sinceros, é o aumento do custo de vida, especialmente advindo do preço de alimentos, que tem causado os maiores impactos aos orçamentos familiares e reduzindo a confiança dos consumidores. Este cenário no mínimo incômodo na economia real tem causado severos impactos políticos ao atual Governo, o qual tenta desvencilhar a sua responsabilidade neste fenômeno e começa a cada vez mais se preocupar com a queda de popularidade nos índices de aprovação.
Na verdade, mesmo um mercado de trabalho aquecido há alguns anos, a despeito da razoável desaceleração prevista para 2025, a geração de renda parece não adiantar muito para uma percepção de melhoria de vida do consumidor. É relevante dizer, não basta renda formal ser gerada, se ela pouco é disponível para o novo consumo frente aos elevados índices de endividamento das famílias e o pouco ainda que resta dos salários acaba por ter o seu poder de compra avariado por uma inflação persistente e calcada especialmente em itens básicos à população.
É com este cenário adverso que analisamos os pilares conjunturais da economia brasileira em 2025, sabendo inclusive que a tendência não é de respiro no segundo semestre, pelo contrário. Com o impacto de juros mais altos, os próximos meses tendem a ser ainda mais desafiadores que a primeira metade do ano. Abaixo, portanto, reforçamos uma piora nas expectativas dos principais indicadores do cenário macroeconômico do país:
Estimativa para o fechamento de 2025:
- PIB: 2,0%
- Inflação (IPCA/IBGE): 5,9%
- Taxa SELIC: 15% a.a.
- Taxa de Câmbio: 6,00
- Balança comercial (em US$): + 75 bi
- Taxa de desocupação ao fim do ano (PNADc/IBGE): 6,7%
- Volume de vendas do comércio ampliado BR (PMC IBGE/12 meses): +2,2%
- Volume de serviços BR (PMS IBGE/12 meses): +2,0%