Por Jaime Vasconcellos, economista.
Vamos à nossa última carta de conjuntura de 2024. E escrever tal texto após a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) em elevar a nossa Taxa Básica de Juros da economia (Taxa SELIC) em 1 ponto percentual, fazendo com que anualmente ela atinja os 12,25%, nos impõe a necessidade de tentar destrinchar os motivos e as consequências dessas decisões, em especial aos nossos empresários representados.
Um mês atrás cravaríamos que esta decisão seria de um aumento de 0,5 p.p. até, no máximo, 0,75 p.p.. De quinze dias para cá, os 0,75 p.p. de elevação era certo e havia quem defendesse o 1 p.p. de acréscimo, como foi o que ocorreu. O BC justifica tal avanço em duas esferas, do lado externo a preocupação é com os juros americanos, que ficando mais elevados por mais tempo, tende a retirar dólares de mercados emergentes e causa ainda mais desvalorização cambial do nosso Real (o que impacta a inflação).
Pelo lado da economia doméstica, os fortes dados do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre mostram resiliência do consumo, advindo especialmente do mercado de trabalho e da expansão do crédito, causando ainda mais preocupação com uma persistente inflação de demanda. Fora isso, mas longe de menos importante, está o descrédito do mercado quanto ao pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo, que elevou as expectativas inflacionárias.
Colocados os motivos para este avanço mais significativo da Selic, que volta ao patamar de outubro de 2023 depois de ter chegado a 10,5% a.a. em maio passado, podemos esperar ainda mais encarecimento do crédito às pessoas físicas e jurídicas, impactando negativamente a demanda agregada e, consequentemente, o desempenho da economia em 2025, que deve avançar percentualmente pouco mais da metade das previsões do atual ano.
Para nós, empresários do varejo, a expectativa é de custos de operações financeiras mais caras, bem como consumidores mais preocupados e retraídos no decorrer dos próximos meses. No primeiro caso, cabe-nos ressaltar que dados do próprio Banco Central mostram que em outubro passado a taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres para pessoas jurídicas atingiu os 21,35% ao ano – o maior patamar desde fevereiro. E considerando que a Selic deve enfrentar novas altas, este custo do crédito possivelmente continuará avançando. Com isso, precisamos nos preparar com planejamento e pragmatismo a este cenário ainda mais desafiador para o próximo ano.
Seguem abaixo as nossas projeções para os principais indicadores macroeconômicos ainda para 2024:
- PIB: 3,4%
- IPCA: 4,70%
- SELIC: 12,25% a.a.
- Taxa de Câmbio: 5,85
- Balança comercial: + US$ 80 bi
- Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD C): 6,1%
- Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +4,3%
- Volume de serviços BR (12 meses): +3,1%