Por Jaime Vasconcellos, economista.
E não deu outra, o Banco Central aumentou no último dia 18 a taxa básica de juros da economia em 0,25 ponto percentual, elevando nossa Selic para 10,75% ao ano. O mercado até apostava em sua maioria neste cenário, a despeito de alguns poucos que não acreditavam nessa retomada de uma política monetária mais restritiva, até considerando um cenário de queda nos juros americanos e que no país impera-se um juro real (diferença entre a Selic e a Inflação oficial) de cerca de 6 pontos percentuais, o que é significativo. Mas vamos aos motivos e aos prognósticos desta decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM).
Em suma, a decisão do Banco Central é calcada em duas variáveis. A economia brasileira possui um forte aquecimento da demanda interna, puxada pelo resiliente mercado de trabalho e expansão do crédito, que pressiona o nível geral de preços (inflação). Ao mesmo tempo, a pouca credibilidade, ou as escassas ações dos governos quanto aos equilíbrios de seus gastos, gera atenção quanto ao tamanho das pressões inflacionárias que este impulso fiscal também pode criar, para além da que já existe. Portanto, o receio em relação aos impactos na inflação devido a uma demanda aquecida e a atual política fiscal expansionista são os principais motivadores do aumento de juros no país.
Não se pode deixar de lado a análise dos impactos negativos desse avanço do juro básico em nossa rotina. Ele tende sim a enfraquecer a demanda via um crédito mais caro e traz freios ao próprio crescimento econômico nacional, principalmente a partir de 2025. E esse é o objetivo do Banco Central. Dado principalmente que a política fiscal tem caminhado em lado oposto, mais que impulsionando a economia e resultando em um desequilíbrio entre demanda e oferta. O resultado dessa receita é pressão nos preços.
O Banco Central, exercendo o seu papel de zelador pela estabilidade econômica, está adiantando o avanço deste problema (preços) no Brasil, ainda que seja de forma amarga a consumidores e empresários, pois sentiremos no bolso as operações de crédito ainda mais caras.
Vivemos em um país onde as políticas monetárias (juros) e fiscal (gastos públicos) não caminham no mesmo sentido. Quem paga por isso é a população, novamente consumidores e empresários. É compreensível a crítica ao aumento de juros, porém o Banco Central está cumprindo com o seu conhecido e esperado papel, que é ser conservador e atuar em prol da estabilidade de preços no país. Sabendo desse viés conservador, trilhamos não um caminho de consonância das políticas fiscal e monetária, até para menores impactos negativos à economia real. Infelizmente é um “cabo de guerra” entre quem pensa no longo prazo (Banco Central) e quem busca manter no curto prazo um crescimento econômico acima das expectativas (Governo)
E quando se fala em curto prazo, é porque infelizmente se sabe que um modelo de crescimento baseado em sobreaquecimento da demanda, e via gastos públicos, esbarra em nada além de inflação e desequilíbrio fiscal (ou mais desequilíbrio). A tendência sendo de novos avanços dos juros, nos traz desafios complexos aos planejamentos operacionais, seja do orçamento familiar, seja das decisões empresariais. Com juros mais altos e por mais tempo, sentiremos algum enfraquecimento na demanda, bem como de forma conjunta o encarecimento do crédito, se a ele recorrermos. Em um momento de quase transição de ano, é hora de sentar e rever os planos.
Seguem abaixo as nossas projeções aos principais indicadores macroeconômicos ainda para 2024:
- PIB: 2,8%
- IPCA: 4,40%
- SELIC: 11,25% a.a.
- Taxa de Câmbio: 5,45
- Balança comercial: + US$ 80 bi
- Taxa de desemprego ao fim do ano (PNAD): 6,8%
- Volume de vendas do comércio ampliado BR (12 meses): +3,7%
- Volume de serviços BR (12 meses): +2,4%