Por Marcos Livato, Especialista em Controladoria e Fundador da Axis Consultoria Empresarial, e Olegário Araújo, Cofundador da inteligência360 e pesquisador do FGVcev.
Há uma concordância de que as iniciativas relacionadas ao ESG, acrônimo para Ambiental, Social e Governança (ASG) precisam estar presentes de maneiras mais transparentes e objetivas nas pautas de decisões estratégicas das empresas sejam elas uma grande corporação de capital aberto ou até mesmo uma pequena empresa familiar.
Logo, focar e implementar processos de governança corporativa é muito importante porque, antes de agir, é fundamental ter uma visão clara da importância de se construir políticas de gestão que garantam sustentabilidade para o negócio e transparência para os acionistas, assim como nas perspectivas ambiental e social.
Destacamos nesse cenário a importância de avaliar como está a estrutura de governança de dados na sua empresa incluindo: segurança, privacidade, precisão, disponibilidade e principalmente utilização desses dados. Para tomar decisões relevantes, muitas delas com impactos na reputação da empresa, precisamos de dados consistentes, que ao serem agrupados, permitirão que a empresa tenha informações corporativas possibilitando uma compreensão mais sistêmica das grandes questões e das interpendências.
A visão do todo, com base em informação, permitirá ter o conhecimento imparcial para que se tome as decisões estratégicas em linha com o propósito da empresa para assim criar valor e deixar um legado para a sociedade. Queremos chamar a atenção para um ponto relevante relacionado aos desafios e dificuldades das empresas em desenvolver uma cultura de tomada de decisão orientada por dados. Para isso torna-se necessário encontrar respostas para duas questões que consideramos relevantes: a) qual o nível de maturidade da empresa em tomar decisões baseadas em dados? b) qual a confiabilidade das bases onde estão sendo extraídos esses dados?
Para auxiliar nas respostas elaboramos e adaptamos essa matriz da GARTNER, uma das principais empresas mundiais especializadas em pesquisa e consultoria em tecnologia da informação. O objetivo é avaliar e classificar o nível de maturidade para uma cultura de decisão baseada em dados e a partir dessa classificação desenvolver mecanismos para a construção de uma cultura data driven num processo de evolução constante entre os níveis da matriz.
Para verificar em que nível sua empresa se encontra avalie:
- Como está a qualidade da sua base de dados?
A primeira premissa é validar/auditar a integridade da base de extração dos dados uma vez que ela será o repositório de onde serão extraídos os dados para tomada de decisão. Sem garantir essa integridade os gestores poderão tomar decisões equivocadas ou até mesmo não as utilizar por não confiar nas informações geradas.
Torna-se preciso a conscientização dos gestores das empresas e o direcionamento de recursos para investimentos em projetos que possam garantir a integridade de suas bases de dados, haja visto inclusive pela entrada em vigor recentemente da LGPD, e que implementem algumas ações para melhoria da sua governança, dentre elas:
- Se tiver processos operacionais documentados, audite; se não tiver, implante.
- Caso ainda não utilize um sistema integrado, avalie e audite como está a integração do ERP Contábil com os demais sistemas.
- Realize uma revisão geral nos seus cadastros (clientes, fornecedores, colaboradores);
- Verifique os acessos e permissões para utilização dos sistemas;
- Identifique e reduza ao menor nível o número de lançamentos manuais no seu ERP.
- Valide em base de teste as atualizações de sistema para evitar comprometer toda sua base oficial.
- Audite seu banco de dados periodicamente
Uma vez garantida a integridade dos dados a empresa está apta a utilizá-los em seu processo decisório e informações para o mercado. Para isso torna-se necessário sua extração, estruturação e análises. Nessa etapa investir na estruturação de uma área de Controladoria irá proporcionar a construção de um SCG (Sistema de Controle Gerencial) e de um SIG (Sistema de Informação Gerencial) para que a governança dos dados e sua efetiva utilização nos processos decisórios se torne uma realidade.
Mas porque ainda as empresas não utilizam os dados nos seus processos decisórios?
Na era da velocidade e precisão, a intuição e as palavras precisam ser alimentadas por dados. Basear-se somente no achismo ou feeling é um risco muito grande porque nossos modelos mentais e percepções talvez não estejam congruentes com o contexto. É vital ter uma visão sistêmica para entender as interdependências, implicações não tão óbvias e mapear as causas estruturais, junto com causas-raiz. A Controladoria pode ter um papel estratégico nesse processo de mudança e atua como um elo entre todas as áreas do negócio. Atualmente, com esse volume de dados disponível, permanecer nos níveis 1 e 2 irá retardar a evolução da sua empresa. Empresas nos níveis mais avançados de maturidade tendem a ter maior transparência, melhor comunicação e constroem melhor a confiança, que agiliza a tomada de decisão e consequentemente podem alcançar resultados melhores.
Precisamos disseminar os benefícios de uma mudança de cultura e seus benefícios para que os gestores possam refletir e iniciar um processo de elevação de patamar entre os níveis da matriz apresentada para que suas empresas possam atingir o estado da arte praticando uma cultura Data Driven com decisões totalmente baseada em dados. Entretanto, cabe ressaltar que a mudança começa pelo comportamento da liderança, que precisa dar o exemplo.
Basear-se no achismo ou unicamente na intuição não nos parece ser a melhor forma uma vez que, nesse cenário cada vez mais competitivo e com a grande quantidade de dados disponíveis, precisamos de evidências para construir um diálogo embasado. Assim como tomar decisões com relatórios errôneos, com informações distorcidas e incompletas podem acarretar sérios problemas como prejuízos financeiros de grande monta e afetar a reputação da empresa no mercado, um valor intangível da marca.