Por Jaime Vasconcellos, economista.
A tendência do segundo semestre ainda não sofreu muita alteração desde o seu início. Como poderá ser melhor observado ao fim desta análise, a inclinação para um desempenho econômico com crescimento acima dos 2% se mantém. A projeção de um IPCA próximo aos 5%, possivelmente pouco abaixo, proporciona também um horizonte de continuidade de queda da taxa básica de juros da economia, que deve ser inferior aos 12% ao ano ainda em 2023.
Setorialmente falando, serviços prossegue com desempenho superior ao comércio. O primeiro setor até tem taxas menores de crescimento, mas continua sendo puxado para cima por turismo, tecnologia e transporte. Já o comércio rateia frente ao custo caro do crédito ao consumidor e ao alto grau endividamento e inadimplência familiar, que ainda que estejam mais estabilizados este ano, se mantêm em elevados patamares. Excluindo os segmentos de consumo não adiável, que também sentem suas margens apertadas, no restante do comércio há dificuldades de desempenho, o que preocupa chegando ao sazonalmente melhor período de vendas, por exemplo, do varejo lojista.
Em geral, o hiato entre um primeiro semestre pouco melhor do que se esperava e, enfim, os efeitos positivos de uma queda nos juros da economia serão capazes apenas de trazer um período de certo marasmo neste segundo semestre. Teremos uma economia andando de lado, na espera de um 2024 mais auspicioso ao orçamento familiar. De toda sorte, ao menos o processo inflacionário mais perigoso parece ter ficado para trás. Os preços de alimentos e aluguéis, por exemplo, têm auxiliado os indicadores de inflação a ficarem mais estáveis, ainda que os preços administrados e choques externos precisem de cuidado e atenção. A inflação nunca dorme, ela por vezes apenas fecha os olhos.
Nesta segunda metade do ano, portanto, o foco estará nas agendas de aprovações legislativas. Os destaques são o arcabouço fiscal, que até foi aprovado recentemente no Congresso, mas que tem pouca confiança de sua plena viabilidade ou de eficácia em momentos de baixa arrecadação, e a reforma tributária, com previsão de ser votada no Senado na primeira quinzena de outubro. Sobre essa última, caberiam vários textos e análises, mas em linhas mais resumidas, fiquemos de olho principalmente nos segmentos com alíquotas diferenciadas ou reduzidas, dado que se esse rol avançar apenas encareceremos a alíquota geral. É necessário ainda manter os olhos abertos em relação às empresas de lucro presumido e que possuem baixa ou pouquíssima parte de seus custos operacionais alocadas em insumos. Ou seja, o alerta fica para aquelas com maior proporção de gastos com folha de pagamento, pois a tendência é avanço forte de sua carga tributária.
Isso posto, abaixo seguem nossas projeções para os principais indicadores macroeconômicos nacionais em 2023:
PIB: +2,2%
IPCA: +5,0%
SELIC: 11,75% a.a.
Taxa de Câmbio: 5,00
Balança comercial: + US$ 60 bi
Vendas do comércio BR: +1,0%
Volume dos serviços BR: +3,0%