Jaime Vasconcellos, economista.
As semanas recentes proporcionaram alguns alentos à economia brasileira. No cenário doméstico, a divulgação de uma inflação mais baixa em abril e a tendência do fim de altas nos juros básicos da economia trouxeram certos alívios. No espectro internacional, o recente acordo de reduções tarifárias entre EUA e China foi capaz de acalmar um pouco as tensões dos últimos dois meses, ainda que seja algo temporário.
Vamos aos detalhes!
Já foi comentado em nossa carta conjuntural que vivenciamos um período de inflação persistente no Brasil, ainda que ela não seja explosiva. O anúncio feito pelo IBGE que o IPCA de abril ficou em 0,43%, mostrando assim uma desaceleração em relação aos registros de fevereiro e março, trouxe algum desafogo ao mercado, pois se os preços estiverem mais comportados a trajetória de alta nos juros deve também cessar em breve. Tal tendência já foi sinalizada pelo Banco Central, que, em sua última decisão, aumentou em 0,5 pontos percentuais a Selic. Esta taxa, inclusive, deve encerrar 2025 até mesmo abaixo dos antes esperados 15% ao ano. E já falamos também aqui o quanto isso impacta o ritmo do custo do crédito para pessoas e empresas (em especial o varejo de material de construção) no país.
Outro ponto a ser considerado, que até alivia o risco global de uma possível futura recessão, foi o acordo entre EUA e China de voltarem atrás em boa parte das sobretaxas comerciais anunciadas, especialmente no mês de abril. Caso este acordo temporário permaneça, menor é o risco de uma inflação disseminada, bem como menor as necessidades de aumentos de juros para contê-la, o que traria um baque ao ritmo de expansão de diversas economias. Esse cenário internacional mais ameno inclusive ajudou o dólar a se manter comportado ultimamente por aqui, garantindo menor pressão sobre a nossa inflação.
É importante ressaltar que estes fatos positivos recentes na economia doméstica e internacional ajudaram a baixar um pouco a poeira de um período de muitas incertezas e volatilidades, o que sempre abala a confiança de empresários e consumidores. Todavia, não podemos nos esquecer que a dinâmica da economia está longe de ser estática, portanto, temos de nos manter informados, atentos e vigilantes, pois os cenários alentadores são de curtíssimo prazo.
Se a inflação parece crescer menos, é preciso lembrar que ainda há pressão nos preços dos alimentos, algo muito importante nos orçamentos familiares e que retira não somente poder de compra da população, mas também inibe novos gastos com outras mercadorias e serviços. Se os juros pararem de subir em breve, deve-se ter em mente ainda que os mesmos se manterão elevados por algum tempo e continuarão impactando os custos de linhas de crédito a consumidores e empresários. O que gera há necessidade de novas projeções à performance esperada de vendas e reavaliações dos custos financeiros operacionais das lojas, por exemplo.
E no campo internacional, nem podemos esperar muita estabilidade duradoura, exatamente pelo que testemunhamos nos últimos três meses, entre anúncios e retrocessos nas medidas principalmente sobre as taxações comerciais advindas dos EUA e respondidas por outros países – insegurança que nos atinge razoavelmente.
Em suma, ficamos com a memória recente dessa maior estabilidade macroeconômica, assim como com a lição de casa de continuarmos com uma gestão pragmática e racional de nossos orçamentos familiares e de gestão empresarial. Aproveitemos este curto período para algum respiro e vamos às novas braçadas.
Estimativas para o fechamento de 2025 da economia brasileira:
- PIB: 2,2%
- Inflação (IPCA/IBGE): 5,5%
- Taxa SELIC: 14,75% a.a.
- Taxa de Câmbio: 5,80
- Balança comercial (em US$): + 75 bi
- Taxa de desocupação ao fim do ano (PNADc/IBGE): 6,7%
- Volume de vendas do comércio ampliado BR (PMC IBGE/12 meses): +2,5%
- Volume de serviços BR (PMS IBGE/12 meses): +3,0%