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Por Jaime Vasconcellos, economista.

Não há outro assunto mais relevante na conjuntura econômica que a recente decisão do governo norte-americano em aplicar uma sobretaxa de 50% nas exportações brasileiras àquele país, com previsão de vigência a partir de 01° de agosto. São análises por todo lado, sejam elas econômicas, políticas, geopolíticas e muitas com um forte cunho ideológico, como a própria decisão do presidente Donald Trump. 

Do ponto de vista estritamente da economia, das características do comércio internacional, é importante frisar que a balança comercial entre Brasil e EUA é positiva ao país do hemisfério norte. Somente no primeiro semestre do ano, o Brasil conta com um déficit comercial (mais importações que exportações) de cerca de US$1,67 bilhões com os Estados Unidos. E ainda assim, o Brasil foi incluído na mais recente atualização das nações sobretaxadas, sendo aquela com o maior percentual dentre os listados pelos norte-americanos, 50%.

Sob a ótica empresarial, o imenso aumento tarifário impacta primeiramente os setores que mais exportam para os EUA — petróleo bruto, ferro ou aço semiacabado, café não torrado, aeronaves e outras máquinas e equipamentos. Se mantida, a medida pode ameaçar significativamente as empresas desses segmentos, as forçando buscar novos mercados, um processo que está longe do automático e que sempre é muito custoso.

No âmbito macroeconômico, a redução do comércio entre os dois países pode diminuir a oferta de dólares na economia doméstica, causando uma valorização da moeda estrangeira e aumentando os preços dos importados, o que novamente pressiona a inflação. Isso demonstra que medidas como esta não preocupam apenas as indústrias exportadoras, mas também relevantes pilares da economia real, atingindo consumidores, empresários e outros agentes. Neste sentido, é por isso que o comércio varejista precisa ficar atento aos desdobramentos deste cenário, principalmente se houver uma retaliação brasileira e uma escalada desta chamada “guerra comercial”.

Por fim, cabe-nos uma reflexão, até porque neste momento não se sabe com segurança quais medidas serão ainda tomadas por ambos os lados, bem como quais os verdadeiros impactos nos âmbitos micro e macroeconômicos. Certeza mesmo é que, novamente, o setor produtivo nacional, que vai desde as indústrias exportadores, passando pelas empresas que as circundam em suas localidades e de outros setores (como o próprio varejo), ficam à mercê de decisões político-ideológicas, restando-nos apenas a apreensão e o olhar atento aos desdobramentos deste preocupante cenário.


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