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Por Ricardo Contrera, sócio-diretor da Mosaiclab.

A primeira edição da Matcon Track, pesquisa nacional com 3000 entrevistas com a população brasileira, que mapeou o envolvimento e interesses relacionados com o setor de material de construção, realizada pela Mosaiclab em agosto, trouxe uma série de aprendizados sobre o grande crescimento vivido pelo segmento nos anos da pandemia, período no qual mais de 60% das pessoas fizeram algum tipo de obra, reforma ou reparo nos seus lares, motivados pelo confinamento e contato intenso e forçado com os ambientes.

Aqueles problemas da casa, antes ignorados pelas pessoas, aquela porta quebrada, a parede manchada, o sofá velho, o azulejo rachado no banheiro foram totalmente ou parcialmente sanados durante este período. A impossibilidade das pessoas gastarem com outros itens no período potencializou a categoria, que atingiu níveis altíssimos de crescimento e rentabilidade nesses anos. O que o estudo indica, porém, que os anos de bonança do setor parecem ter ficado para trás, uma vez que aponta para uma estagnação no desejo futuro em construir, reparar ou reformar, estacionado na casa dos 40% das pessoas.

Há percepção de aumento de preços generalizada e isso impacta na decisão de realizar obras futuras. Pouco mais de 80% das pessoas consideram que recentemente aumentaram os custos dos material de construção e da mão de obra. Isso, aliado à pesada carga tributária brasileira, o crédito caro e escasso, além da concorrência desleal dos produtos vindos do exterior, em condições muito diferentes das vividas por fabricantes e varejistas nacionais. 

O consumo do setor também sofre por conta da concorrência de outras categorias que foram represadas no período pandêmico. O dinheiro antes direcionado para o lar, agora está indo para viagens, lazer e vestuário. A última categoria. vestuário, possui o maior desejo futuro de consumo. As pessoas voltaram às ruas, aos escritórios, aos bares, restaurantes, à praia e precisam de roupas e acessórios para se mostrarem novamente ao mundo. Fica difícil competir com a vaidade das pessoas.

É exatamente aí que entram alguns insights e oportunidades da pesquisa. Entre os cômodos, a cozinha, a sala e o lavabo estão entre os top 5 dos clientes para a realização de alguma obra, reforma ou reparo nos próximos 12 meses. São ambientes de convívio social e que precisam estar bonitos para serem mostrados. Estes locais são mais associados com o uso de melhores acabamentos, onde podem ser aplicados mais recursos em uma eventual melhoria. As tintas foram os produtos mais comprados nos últimos 30 dias, dentre as diversas categorias testadas, o que também sinaliza para o aspecto estético e emocional da obra para os consumidores.

É muito importante que as empresas do setor, sejam fabricantes ou varejistas, reflitam sobre a importância de posicionar suas marcas para explorarem o lado emocional do consumidor e tragam para suas embalagens, comunicações e composições de ambientes nos pontos de venda o espírito gregário e social que o resultado final de uma obra ou reforma propicia às pessoas. O sentimento associado ao final de uma obra é majoritariamente positivo, apesar de eventuais problemas na jornada. 

É importante ressaltar que o papel das marcas e varejistas é apenas um lado da moeda que irá ajudar o setor a retomar o protagonismo. O governo precisa agir para fomentar o setor, seja garantindo uma reforma tributária que realmente beneficie e simplifique a vida do consumidor, com um olhar vigilante no controle da inflação, que permita uma queda mais acentuada dos juros, seja com a volta de estímulos ao crédito que foram tão importantes no passado, como o Construcard, por exemplo, ou com estudos para medir o impacto do comércio cross border e seus riscos atuais para o emprego nas indústrias e varejistas brasileiros.

Somente essa conjunção de fatores, com esforços conjuntos da sociedade civil e os governos, indo ao encontro dos anseios e desejos dos consumidores, fará com que o setor de material de construção volte ao protagonismo dos últimos anos.

Espero que nas próximas ondas do Matcon Track nós já tenhamos um cenário diferente, apontando para um crescimento na intenção futura de consumo do setor.


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